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Memória de Santarém: Qual a sua graça? Bráulio Rodrigues da Mota!

José Edibal Carvalho Cabral - 11/12/2021

Bráulio Rodrigues da Mota, um dos personagens mais populares de Santarém no século XX - Créditos: Arquivo de família

Acordei ouvindo o assobio distante e diferente de uma musica bem rimada. Era Bráulio, no seu habitual dia-dia cantando, assobiando, alegremente....veio a curiosidade de saber que tipo de musica era aquela, aproximei-me bem devagar, e, uma das frases da melodia....gê, ge, ge.....e perguntei-lhe: - Bom dia meu compadre? Que musica é essa que você está cantando?

 

Riso fácil apareceu em seu rosto:

 

Oh meu compadre, bom dia! É do Getulio - respondeu-me com o sorriso de volta.

 

Consegui identificar a musica, perguntando a minha sogra Perpétua.

 

-É uma "modinha" do Getulio Vargas quando foi candidato a Presidente da República, explicou-me.

 

No dia 08 de dezembro de 1912, na cidade de Alenquer, nascia o `Kaspar` Bráulio Rodrigues da Mota, primeiro filho de oito irmãos, quatro homens e quatro mulheres, o pai lavrador Constantino Rodrigues da Mota e sua mãe Barbara dos Santos Mota.

 

logo notaram que aquele rebento era calado e risonho. Aos doze anos de idade veio para Santarém morar com Osman Bentes, na Rua Siqueira Campos, ao lado do solar dos Macambiras.

 

Além dos trabalhos domésticos que fazia, passou a vender rebuçados de vários sabores, doces, biscoitos, no tabuleiro que Dona Joana Crescencia, mãe de José Fernando dos Santos fazia para que o jovem Bráulio percorresse todo o comercio e mercados da cidade vendendo as saborosas iguarias de Dona Joana. Seu jeito simples, a devoção por Nossa Senhora da Conceição e as vendas das iguarias faziam parte de sua vida pacata no começo do século XX e de sua adolescência.

 

Com a criação da Congregação Mariana, Bráulio começou a participar mais ativamente dos grupos de jovens, ajudava a Paróquia a desenvolver seu apostolado. Nas reuniões da Congregação Mariana, vários jovem participavam: Solano Lisboa, Elinaldo Barbosa, Jose Fernando dos Santos entre outros. Começou nesta época também, na equipe de coleta da festa de Nossa Conceição onde permaneceu por mais de cinqüenta anos.

 

Nas reuniões da Congregação Mariana, o jovem Bráulio levava o café e os biscoitos. Foi o jovem e ex-prefeito de Santarém Elinaldo Barbosa, que pediu a Bráulio em vez de café, que levasse refresco de mangarataia. Foi aí que tudo começou. Elinaldo, que nesta época trabalhava na Souza Cruz de cigarros, solicitou de Bráulio, que todas as tardes levasse dois litros de refresco no seu trabalho.

 

Como tinha algumas garrafas de refrigerantes, ele colocava o refresco, e no percurso vendia todo o estoque. Mercado municipal, comércio, o mesmo itinerário que fazia do tabuleiro de doces, passou a ser do refresco de mangarataia, que ficou tão famoso que passou a ser vendido no estádio Municipal de Santarém, o famoso refresco do Bráulio.

 

Torcedor fanático do São Francisco Futebol Clube, levava seu refresco a todos os jogos de futebol. Seu ponto de venda ficava ao lado direito na entrada do velho estádio Elinaldo Barbosa, bem ao lado era a venda de croquete do seu `Gito`. Quem se engasgasse com o croquete, tomava o refresco do Bráulio.

 

Bem pertinho de sua venda ficava também a famosa torcida feminina do São Raimundo Esporte Clube.Quando o Leão fazia gol, Bráulio batia forte com a tampa na panela de refresco, todos se deliciavam, era gol do Leão Azul, a torcida feminina do São Raimundo, xingava meu compadre Bráulio.

 

Braulio, personagem que viveu para auxiliar a todos, morreu, em 2010, aos 98 anos da mesma forma que veio ao mundo sem alarde, silencioso.

 

*Jose Edibal C. Cabral é advogado

 

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