Alfabetiza junho

Criado-Mudo (Ano 15 d.G)

05/01/2014

Nas casas de famílias abastadas, a criadagem era responsável pelos serviços da casa de seus senhores e realizavam também os pequenos favores. Suprimida a criadagem por evolução da sociedade, vieram os mordomos, empregados atenciosos e impecavelmente vestidos, para exercer essa função.

Ainda existem mordomos profissionais por aí mas os criados-mudos foi solução simples e bem eficiente: não fazem grandes favores ao seu senhor, é verdade.  Mas ajudam. São suportes para abajur, livros, óculos e suas  gavetas servem como depósito para depósitos de cartelas de remédio, cardápios de pizzas e outras coisas mais.  Se não desempenham todas as funções, têm vantagens: não há salário nem férias, muito menos remuneradas e, sobretudo, não resmungam nem torcem o nariz das caturrices e manias de seus senhores...

Aproveitei o início do ano para por ordem nas gavetas do meu criado-mudo, como fazem as pessoas. Encontrei uma porção de tranqueiras que, lá atrás, seria um sério grilo na cabeça da criadagem: põe esse clipe ali na primeira gaveta! Guarda essa tampa de caneta esferográfica numa dessas gavetas, um dia a gente pode precisar; coloca essas pilhas velhas na terceira gaveta! Veja se você encontra em uma dessas gavetas uma bula de remédio; tenho certeza que coloquei em algum lugar por aí...

Quando vi essas coisas inúteis nas minhas gavetas, ao lado de uma maçaroca de papéis, menus de disk-pizza, cartões de visita, extratos bancários, dificultando o fechamento das gavetas, tomei a decisão de fazer uma limpeza tolerância zero!

Tinha, ali, documentos que guardava com muito carinho.  Eram preciosidades que me acompanhavam há anos.   Abri a primeira gaveta e dei de cara com um recorte amarelado de revista, com o desenho da planta dos pés, relacionando a posição de cada órgão do corpo humano na palma do pé!  Massageando aquele ponto do pé, o beneficiado seria o órgão relacionado.

Depois, outra preciosidade:  um manual sobre saúde do coração, riscos e ameaças à saúde do coração e até regras seguras  de conduta alimentar.

Havia um resumo impresso, muito prático e simples, sobre “O que muda com a Reforma da Língua Portuguesa” organizado por um jornal em 20 de agosto de 2007.

Tudo muito interessante mas são coisas antes do Goggle, achados a.G, essa ferramenta de busca fundada há 15 anos.

Corri para o computador, acessei o Google, digitei “mapa da planta dos pés” e apareceram 104 mil sites, com foto e tudo!  Digitei “coração, pressão arterial e dieta alimentar”: 61 mil e oitocentos sites.   Procurei “O que muda com a reforma ortográfica” e encontrei 609 mil sites.

Moral da estória: ao guardar essas coisas como “manuais definitivos”, estava na verdade trabalhando com informação reduzida, limitando meu conhecimento. 

Ainda estou otimista que o Google possa oferecer destino razoável aos clipes enferrujados, pilhas velhas e bulas de remédio que ainda habitam meu criado-mudo... Fica para uma próxima arrumação, talvez no ano 16 d.G.

 




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